Veja desde o primeiro episódio http://invernocontraste.blogspot.com/2008/12/1-episdio.html
"armadilha"
Vestígios de sangue e neve remexida criavam uma trilha indesejada para dentro da floresta. Resolvo segui-la. Nas cascas das árvores posso ver marcas da minha infância, quando achava que “treinava”. As pistas me levam. Sigo aquele caminho orgânico, mesmo ele me conduzindo por partes escuras que eu não conheço. O odor fica cada vez mais forte. Posso prever uma visão desconfortável de criancinhas mortas.
Medo. As andanças deram num portão de uma cabana. Uma cabeça de coelho antecede os dizeres “Pureza de corpo e alma”. Avanço mais um pouco. A tensão aumenta. Tudo isso que aconteceu pode ser tanto trabalho de um demente como o de um grupo com ideologias errôneas. Consigo ver pela janela do pequeno aposento.
Vômito. Meu estômago treinado não agüentou depois do que meus olhos viram. Crânios amontoavam-se no que parecia ser um santuário. Dentre eles, posso distinguir o pequenino rosto do menino desaparecido. Uma mão toca meu ombro. Giro nos calcanhares com Glorfinder em punho. Um facho de luz ilumina minha espada, se dependesse de mim, não seria a última batalha com minha companheira de guerra.
Ao virar, fico confuso. Observo os detalhes da cena com atenção. A senhora que me encarou pela janela, agora se apresenta com uma imitação metálica de pernas. Suas sobrancelhas levantam e seus olhos me fitam. Uma voz rouca sai daquela boca enrugada. “Seu tolo! Vamos sair daqui”.
Depois de 15 minutos em silêncio caminhando, resolvo quebrá-lo. “Quem é você minha senhora?”. “Eu sou eu. Faço o que me dá vontade e o que me interessa. Estou caçando esses filhos da puta faz tempo”. “E quem seriam esses?”. “Eles se autodenominam como ‘purificadores’, mas eu ainda prefiro chamá-los de filhos da puta”.
Ela percebe a atenção que eu dou a aquela coisa metálica no lugar das pernas. Ela parece mostrar irritação. “O que foi? Nunca viu uma aleijada? Esses filhos da puta arrancaram minhas pernas, mas eu vou fazer suco com as bolas deles. Meu nome é Linda McAllister, antes que você pergunte”. “Harold the Cunning, prazer”. “Só se for seu”. A falta de etiqueta me fascina.
Outro momento silencioso. “Por que ‘purificadores’?”. “Sabe aquela cabeça que você viu na cabana? Então, eles cortam a cabeça para purificar a pessoa, não sei de mais detalhes, uma velha com pernas metálicas não tem muitas chances de espionar”.
Na orla da floresta, quase na vila, um indivíduo se aproxima. A escuridão da noite se mistura com sua roupa. Ele porta um machado, usa um capuz que só mostra seus olhos azuis e expressivos. Eu seguro firme no cabo da Glorfinder, prevejo sangue. Mais 7 indivíduos trajando a mesma roupa se aproximam. Meus pés levantam poeira, minha espada ganha cor vermelha. Acertam minha cabeça, ela fica quente. Desmaio.